quarta-feira, 14 de abril de 2010

Como a internet vai mudar a mídia

Ethevaldo Siqueira do Economia & Negócios - Estadão on-line

LAS VEGAS – Olhar para o futuro, da forma mais realista e antecipar os desafios que ele nos traz é a atitude mais recomendável para a maioria dos radiodifusores norte-americanos, diante do poder de transformação da tecnologia em geral e da internet em particular. Esse futuro foi mostrado aqui em Las Vegas por dois palestrantes especiais, que marcaram o dia de ontem no NAB Show 2010: o primeiro keynote speaker foi Julius Genachowski, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês, de Federal Communications Commission), o órgão regulador do setor nos Estados Unidos.

O tema central da palestra do presidente da FCC foi o plano nacional de banda larga dos Estados Unidos, que está em debate no Congresso. “Com esse plano, queremos reduzir o gap que nos separa de outras 15 nações desenvolvidas do planeta. E é bom lembrar que mais de 30% dos domicílios norte-americanos não dispõem de banda larga. Esperamos que, em 10 anos, possamos oferecer acesso a mais de 50 Megabits por segundo (Mbps) à maioria esmagadora da população. E, além de 2020, queremos dar o salto para 1 Gigabit por segundo (Gbps).”

É neste ponto que os radiodifusores procurar entender como enfrentar o desafio quase simultâneo da banda larga, da TV-3D e das possibilidades crescentes da IPTV, ou seja, da TV sobre a rede mundial de internet. Para muitos radiodifusores, essas mudanças tecnológicas mais se parecem com um verdadeiro tsunami que se avizinha.

O segundo keynote speaker de ontem foi Ray Kurzweil, um dos mais famosos e polêmicos futurologistas e visionários norte-americanos. Seu tema teve como título geral: “A aceleração da tecnologia no século 21”. O objetivo central da palestra era dar uma visão da tecnologia que nos espera, especialmente nas áreas de comunicações e tecnologia da informação, e preparar-nos para enfrentar os desafios que se anunciam no horizonte.

Mesmo criticado por muitos intelectuais e cientistas, pela ousadia das previsões que faz, Kurzweil é considerado “o gênio incansável” pelo Wall Street Journal e “a mais moderna máquina de pensar” pela revista Forbes. Sua grande tese é a da previsibilidade do futuro, em cada área da ciência e da tecnologia. Por isso, é ouvido com atenção por líderes da indústria – a começar de Bill Gates e Steve Jobs – e suas previsões são discutidas em grandes universidades como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade Carnegie Mellon.

Em sua apresentação, Kurzweil diz que a internet vai quebrar todos os paradigmas que conhecemos em áreas tradicionais que denominamos hoje de jornais, revistas, rádio e televisão. “Acompanhem a evolução dos últimos 50 anos, de uma era inteiramente eletromecânica para a da eletrônica da válvula a vácuo, do transistor e do microprocessador. O salto que demos, quanto à densidade de componentes por chip, equivale à passagem de uma escala geométrica para uma escala logarítmica. Se acrescentarmos aí o que a nanotecnologia nos pode oferecer, a previsão mínima é a de que, em um horizonte de 10 anos, não ficará pedra sobre pedra.”

Mas Ray Kurzweil não tem a resposta para os que lhe perguntam como o rádio e a TV do futuro poderão sobreviver, do ponto de vista econômico, ou seja, do modelo de negócios. “Se eu soubesse, abriria um novo escritório de consultoria e todos vocês, os 80 mil radiodifusores que aqui se reúnem seriam meus clientes. Mas não sou pessimista. O mundo continuará precisando, desesperadamente, de informação rápida e confiável. E, mais ainda, de entretenimento.”

Kurzweil chama a atenção dos radiodifusores para a importância estratégica da mobilidade. “O mundo terá 5 bilhões de celulares no final deste ano. Nenhum outro dispositivo de comunicação se tornou ou irá se tornar mais popular do que o telefone móvel. Pensem na necessidade de informação e entretenimento dessa massa de quase 80% da população do planeta.”

Ao final de sua palestra, Kurzweil respondeu a perguntas do auditório e do debatedor Don Marinelli, professor de teatro e administração das artes da Universidade Carnegie Mellon e produtor executivo do Centro de Tecnologia do Entretenimento (ETC, na sigla em inglês), uma figura de profeta com cabelos e barba longos.

Um dos aspectos mais interessantes do trabalho de Kurzweil está centrado hoje na área de entretenimento. Como professor na Universidade Carnegie Mellon e na Singularity University, no Vale do Silício, ele ressalta a importância de iniciativas como a do ETC, como primeira escola a oferecer um programa de formação e graduação em tecnologia do entretenimento. Nesse centro, aproximam-se tecnólogos e artistas, para trabalharem juntos em projetos do mundo real, que combinam as mais avançadas tecnologias digitais com os maiores talentos artísticos e educacionais.

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